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domingo, 28 de novembro de 2010

Marina Colassanti uma escritora sempre além de seu tempo ...(Reflection, Culture)

APRENDI A ADMIRAR ESTA AUTORA FAZ MUITO TEMPO. GOSTO DA MANEIRA COMO ELA ESCREVE SOBRE A REALIDADE, COM CLAREZA E EMOÇÃO...
SEGUE PEQUENA AMOSTRA...

Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou até os 10 anos na Itália, e chegou ao Brasil em 1948, quando sua família se radicou no Rio de Janeiro. Em 1968, iniciou sua carreira literária, com o livro Eu sozinha. Tem mais de 40 títulos publicados, entre poesia, crônicas, contos, livros para crianças e jovens. Trabalhou em revista, jornal, televisão e como ilustradora de seus livros infantis. Além dos livros, Marina dedica-se às artes visuais: entre 1952 e 1956 estudou pintura e, em 1958, já participava de salões de artes plásticas. Entre outros prêmios, ganhou quatro Jabutis e o Livro do Ano por Ana Z aonde vai você?, além de prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, da Câmara Brasileira do Livro, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, do Concurso Latinoamericano de Cuentos para Niños, promovido pela FUNCEC/UNICEF, e o Prêmio Norma-Fundalectura latino-americano.


Passando dos Cinqüenta (Marina Colasanti)

Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas


Frutos e Flores (Marina Colasanti)

Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.


Sexta-feira (Marina Colasanti)

Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.


-o-

 
O amor não é louco. Sabe muito bem o que faz, e nunca, nunca, age sem motivo. Loucos somos nós, que insistimos em querer entendê-lo no plano da razão.
                                                                                                                           Marina Colasanti


Assim como deixamos abertas as portas e disponíveis os sentimentos para receber a chegada de um amor, devemos deixar livre a passagem para que serenamente se vá quando chegada a hora.
                                                                                                                          Marina Colassanti



Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.
                                                                                                                           Marina Colasanti

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